Roteiristas brasileiros são mal pagos e invisibilizados em créditos
- Márcio Leal
- 7 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

No ano em que dois roteiristas brasileiros foram premiados num dos mais importantes festivais de cinema do mundo (o de Veneza, pelo filme Ainda Estou Aqui), ainda é uma tarefa difícil achar nas reportagens sobre o filme o nome dos profissionais premiados: Murilo Hauser e Heitor Lorega.
Não é, entretanto, uma situação incomum. A Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA) acaba de divulgar um mapeamento da atividade de roteiristas profissionais no Brasil em 2024 e as conclusões reforçam essa “invisibilização” desse trabalhador fundamental do cinema.
Nele, 11% das pessoas roteiristas entrevistadas disseram que já tiveram seus nomes creditados de forma errônea nos filmes dos quais participaram e 28,6% já tiveram os nomes simplesmente omitidos dos créditos. E revelou ainda problemas de remuneração inadequada (54,2%), escassez de trabalho (53,5%) e contratos injustos (41%) na labuta cinematográfica.
A maioria das pessoas no mercado já trabalham entre 5 a 15 anos com roteiro, não tem parentes na área audiovisual, trabalham de casa, são autônomas e realizam outras atividades para se manter, além do desenvolvimento de roteiro. Do total, 40% de roteiristas no Brasil não obtiveram renda com roteiro neste ano (ou faturaram menos de um salário mínimo).
O diagnóstico aponta para a necessidade de uma ação de Estado para minorar a situação e estimular a atividade, crucial para o desenvolvimento de uma indústria audiovisual. Conforme o levantamento, apesar dos percalços e da precarização, 30% dos roteiristas ouvidos se mostraram otimistas em relação a 2025.
O Mapeamento ABRA 2024 foi realizado de forma totalmente virtual, com respostas de 954 pessoas associadas em 2023 e 2024. O questionário foi composto por 59 campos de pergunta e resposta - 20 a mais em relação ao mapeamento anterior, de 2022.
A comparação com dois anos atrás também aponta agravamentos de situações que já eram críticas. Associadas que trabalham exclusivamente com roteiro caíram de 35,2% para 27,5%. E entre aquelas que tinham outro trabalho remunerado por escolha, os números despencaram de 41,4% para 29,7% e as que tem outro trabalho remunerado por necessidade subiu de 24,5% para 31,8%. Os dados demonstram que, nos últimos 24 meses, se tornou ainda mais difícil conseguir sobreviver exclusivamente com o trabalho de roteirista no Brasil.
A queda de roteiristas CLT contribuiu para esse cenário grave. De 10,5% em 2022, a contratação pelo regime de CLT caiu para 5,5% em 2024. Até mesmo as roteiristas fixas, mas pejotizadas, observaram uma queda de 13,1% para 8,8%, confirmando a escassez de trabalhos regulares no mercado.
Cerca de 34,6% das associadas participaram de editais públicos, sendo que, destes, 55% foram da Lei Paulo Gustavo e 14% da Lei Aldir Blanc.
A pesquisa mapeou as principais dificuldades enfrentadas no dia a dia do trabalho de roteirista no Brasil, além de identificar as pautas prioritárias para a ABRA, nas quais se destacam por exemplo a luta pela garantia de direitos autorais, regulação das plataformas de Video Sob Demanda (VOD), melhores condições de remuneração atreladas a recursos públicos.
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