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Foto do escritorMárcio Leal

Além das mãos: grupo cênico de Mossoró (RN) leva inclusão aos palcos



Um exemplo de como a expressão corporal é linguagem que transcende as barreiras do som. É assim que jovens surdos estão vivendo a experiência de se tornarem atores, subindo aos palcos do Rio Grande do Norte e concretizando o ideal de inclusão na arte potiguar, quiçá no Brasil.


O Grupo Cênico Além das Mãos (Grucam) já realizou oficinas de teatro com 15 jovens surdos numa parceria entre a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), através da Pró-reitoria de Extensão (Proex), e a Associação de Surdos de Mossoró e Região (Asmor). Hoje, tem um espetáculo montado, de mesmo nome do Grupo, que estrou, em setembro, como convidado do Festival de Teatro da Uern (Festuern), de 2023.


Enriquecendo a experiência cultural dos novos atores, o objetivo da iniciativa foi inserir pessoas surdas em espaços de interação e aproximação com a arte, teatro e dança. O projeto não apenas quebra preconceitos, mas também oferece uma experiência única aos espectadores.


"O trabalho pode ser uma referência de inclusão na arte no Brasil, porque é muito difícil ter trabalho de surdos dentro do teatro e, quando se tem, é através da língua de Libras, o que acaba restringindo a compreensão às pessoas surdas. No que a gente está fazendo, não utilizamos as Libras. A gente fez um trabalho que não tem linguagem verbal, claro, mas se dá pela via corporal, e todas as pessoas podem compreender, da criança ao idoso, sendo surda ou ouvinte, não tem barreira", afirma Dionízio do Apodi, diretor do projeto e realizador juntamente com a atriz Renata Soraya, ambos da Direção de Educação, Cultura e Arte e também coordenadores dos grupos de Teatro e Dança, da Uern.


O “Teatro Além das Mãos” é uma das 10 iniciativas contempladas com recursos de penas alternativas à prisão, aplicadas pelo Tribunal de Justiça do RN. Com os recursos, o espetáculo pôde ser planejado sem sobressaltos e uma composição “tranquila” dos figurinos, maquiagem e roteiro. Depois da estreia no Festuern e de se apresentar em bairros da periferia, o projeto foi aprovado pela Lei Paulo Gustavo no município e vai iniciar circulação por dez escolas da rede pública.


O diretor conta que já receberam, além disso, vários convites para se apresentarem em outros municípios do RN. "Devagarzinho a gente não tem dúvidas que esse projeto vai além Rio Grande do Norte, eu não tenho dúvidas que há algo muito forte nele, que é uma originalidade que a gente não encontra em outros trabalhos com pessoas surdas."


Espetáculo Além das Mãos


Teatro Além das Mãos é um espetáculo com duração de trinta minutos, com atuação dos atores Carlos Eduardo e Wellington Matheus, dirigidos por Renata Soraya e Dionízio do Apodi. A peça é uma comédia composta por três quadros que enfocam questões simples de nosso cotidiano, como uma pescaria, uma fila de banheiro e uma partida de futebol, mas que acabam sendo suficientes para uma viagem lúdica pelo universo de um teatro que busca o sorriso e faz refletir.


De maneira fluida, os artistas utilizam gestos expressivos como linguagem universal para transmitir, de forma divertida, cada momento. De acordo com o idealizador, a expressividade corporal é muito mais forte na pessoa surda do que no ouvinte, porque este, por ter a linguagem verbal, não precisa necessariamente do corpo para ser compreendido. Entretanto, a limitação na audição não é um condicionante para conferir o destaque destas pessoas nas oficinas e no espetáculo. Segundo Dionízio, “eles são talentosos porque são talentosos, se envolvem, têm interesse”.


“O teatro sempre foi muito inclusivo, aceita dentro dele todas as pessoas, independentemente de qualquer ausência que a pessoa possa ter. Isso sempre foi muito forte no teatro. Não à toa, pessoas que se identificam dentro da sigla LGBTQIA+ sempre tiveram espaços de expressão. Essa coisa natural do teatro acaba sendo natural também para os surdos, pensando nas possibilidades de trabalho. Sim, gera inclusão, mas o primeiro desafio é: pessoas queriam fazer teatro. E aí a gente propiciou essa possibilidade dessas pessoas se expressarem através do cênico. A inclusão que isso toma depois é outra coisa, e é importante que se discuta, que se fortaleça, mas tem essa coisa de ser natural", complementa.


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