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Foto do escritorMárcio Leal

Novos sítios arqueológicos são registrados na ilha de Marajó



Pesquisadores e técnicos do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) identificaram quatro novos sítios arqueológicos no município de Anajás (PA), no arquipélago do Marajó. Dois ocorreram na comunidade da Pedra e outros dois na comunidade Laranjal.


Artefatos de cerâmica ficaram expostos após a recente seca na região, o que permitiu a realização da ação conjunta para analisar o estado de conservação. “Os novos achados são importantes para a arqueologia amazônica. Encontramos nesta breve visita um padrão de ocorrência de tesos [aterros construídos pelos povos do Marajó] que aparentemente se replica ao longo do Anajás e outras regiões a leste do Marajó", explica a pesquisadora Helena Pinto Lima, do Museu Goeldi.


A cerâmica marajoara sempre esteve no centro dos debates sobre complexidade social na Amazônia. Esse patrimônio tem sido pesquisado desde o século XIX, sobretudo na região chamada “Marajó dos Campos”, onde predominam as planícies alagadas.



Os estudos indicam que essa área já era habitada há cerca de 3,5 mil anos por grupos que tinham como principais atividades a caça, a pesca, a coleta e o cultivo da mandioca. Pesquisas arqueológicas mostram ainda que essas sociedades foram responsáveis pela produção em cerâmica de uso principalmente doméstico, além do manejo ecológico dos recursos naturais expresso nos tesos, por exemplo.


"Talvez aqui estejamos no que foi o início de organização regional de uma sociedade com altíssimo conhecimento do ambiente, que criou e replicou sistemas de assentamentos altamente interconectados. Trata-se de um verdadeiro urbanismo amazônico muito antigo”, destaca Helena.


Sobre o grau de vulnerabilidade dos sítios arqueológicos, a expedição identificou riscos relacionados a fenômenos naturais, como a dinâmica de secas e cheias que tem se tornado mais intensas, assim como o impacto do trafego intenso de embarcações na área, que acaba contribuindo para processos erosivos.


"O risco hoje é perder as informações que ainda existem nesses sítios devido à dinâmica erosiva do rio intensificada pelas mudanças climáticas. Na curva do rio, um dos cemitérios indígenas está sendo exposto e levado pela força das águas", alerta o arqueólogo Carlos Barbosa, que defende a expansão dos estudos no local.


"Isso torna necessário que medidas sejam tomadas em direção à pesquisa científica. O potencial arqueológico observado durante a vistoria técnica dessa área está fora da região anteriormente pesquisada e, considerando as tecnologias de hoje, é uma região que merece atenção", afirma.



Apesar disso, a equipe ressalta que um fator que deve contribuir para a preservação do patrimônio arqueológico é o grande interesse da comunidade em fortalecer o conhecimento sobre a memória e os povos originários da região. Para isso, as instituições reforçam que qualquer descoberta desse tipo deve ser comunicada ao IPHAN e que não é recomendado coletar vestígios sem acompanhamento profissional.


"As pessoas com quem estivemos, na cidade e nas comunidades, mostraram interesse em conhecer mais e também em preservar os achados, o que é um excelente indicativo. Houve até manifestação em relação ao desejo de terem um museu em Anajás, onde esses achados pudessem ser informados ao público", conta Helena.

Durante a vistoria, a comunidade, que fica em uma área acessada somente por transporte aquático, foi mapeada com uso de um drone com sensor LiDAR (sigla em inglês para Light Detection and Ranging). Esta tecnologia permite o sensoriamento remoto e a geração de imagens tridimensionais a partir de pulsos de luz no espectro infravermelho, sendo assim de grande aplicabilidade no campo da Arqueologia.


“A tecnologia permite visualizar através de nuvens de pontos analisar diversos cenários em 3D, podendo extrair informações como: modelos de elevações e superfícies, curvas de níveis, biomassa, entre outros. Diversos mapeamentos já foram realizados pelo drone do Museu Goeldi com resultados positivos para o avanço de novas descobertas e pesquisa”, conta o técnico em geoprocessamento Nilson Borges.

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