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Foto do escritorMárcio Leal

Caruru de Cosme e Damião vai se tornar patrimônio imaterial da Bahia


O Conselho Estadual de Cultura aprovou, nessa quinta-feira (19/9), o tradicional caruru de Cosme e Damião como patrimônio imaterial da Bahia. Agora, o parecer do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) será sancionado pelo governador Jerônimo Rodrigues e deve ser publicado no Diário Oficial no dia 27 de setembro - data importante para o povo de santo, de ofertas de carurus e doces.

"Salvaguardar esse bem é salvaguardar memórias, assegurar a transmissão para as novas gerações e demonstração de respeito ao sincretismo religioso tão forte na Bahia. Esta é também uma forma de assegurar a sua continuidade, reprodução e transmissão às novas gerações. Quem não fica ansioso para um convite para um caruru quando chega setembro?", comenta Marcelo Lemos, diretor geral do IPAC.


Poucos pratos são tão tipicamente brasileiros quanto o caruru baiano, que evidencia as influências africanas e indígenas na nossa gastronomia. Ele é preparado com quiabo, azeite de dendê, camarão seco, gengibre, amendoim, castanha de caju e outros temperos. Os acompanhamentos podem ser feijão fradinho, arroz, farofa de dendê, ovos cozidos, xinxim de galinha, banana da terra frita, rapadura, cana-de-açúcar ou pipoca.


Na umbanda e no candomblé, no dia 27 de setembro, são oferecidos carurus para as crianças, em forma de agradecimento, novos pedidos e reverência não só aos ibejis, mas a todos os orixás. A igreja católica celebra os dois santos, que teriam vivido na Ásia e cuidavam da saúde das crianças gratuitamente, um dia antes, em 26 de setembro.


O autor do processo de patrimonialização e membro do Conselho, Táta Ricardo, falou sobre a aprovação. "O princípio do patrimônio é de fato pertencimento. A gente não aprende na academia, na universidade, patrimônio é algo que a gente herda. O caruru de São Cosme e Damião é uma das maiores manifestações populares de origem sacra do estado, mantida pelas pessoas, famílias e comunidades religiosas e culturais presentes em toda a Bahia."


Religiosidade


São Cosme e Damião, no candomblé, é associado ao orixá Ibeji, que significa gêmeos na cultura Iorubá. Mas há outras divindades associadas a crianças a depender da nação. O nascimento de gêmeos, na cultura Iorubá, é considerado como um fenômeno divino e sagrado, e é de onde vem a simbologia do caruru.


Há uma diferença entre o orixá Ibeji e os erês. Os erês representam espíritos de crianças que foram escravizadas, viveram em situação de fome e abandono. Por isso geralmente estão associados a comida. E setembro é o mês associado aos erês, como se fossem "padroeiros” das crianças abandonadas e das que sofreram durante a escravização ou no pós escravização.


Por isso, a tradição em que sete crianças comem primeiro. E depois todo mundo vai comer e se alimentar. Ainda tem a prática de comer com as mãos e limpar as mãos na saia de quem ofertou o caruru.

Na Bahia, há uma diversidade de modos como se apresenta o caruru, inclusive com a presença de sambas e rezas. Geralmente, festa se dá a partir de várias etapas para a sua realização, que ocorre de forma comunitária, com a participação das famílias e a celebração do rito que inclui, inclusive, práticas ritualísticas católicas e afrobrasileiras.

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