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Governo lança o primeiro plano de abastecimento alimentar do país

  • Foto do escritor: Márcio Leal
    Márcio Leal
  • 19 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Antigas demandas da sociedade civil e de setores do governo, o Plano Nacional de Abastecimento Alimentar (Alimento no Prato) e a terceira edição do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) foram lançados na última quarta-feira (16/10).


"A nossa ideia é tirar todas as pessoas da situação de fome. A gente é capaz de produzir muito mais alimento do que a gente consome, mas muito se perde. Podemos dizer que existe seca ou excesso de chuva. Mas a única coisa que justifica a fome é a irresponsabilidade de quem governa", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Lula disse que, para que uma política pública dê certo, é preciso que haja uma "combinação perfeita" entre governo, movimentos da sociedade civil (como os que auxiliaram na elaboração de ambos os planos lançados) e pessoas que serão beneficiadas. "Historicamente, a gente semeia, aduba, joga água e, quando a gente sai, chega alguém que destrói tudo com a maior desfaçatez."


A Política Nacional de Abastecimento Alimentar foi instituída por decreto em dezembro de 2023 e determinou a elaboração do primeiro Plano Nacional de Abastecimento Alimentar do país. São 29 iniciativas de fortalecimento de programas existentes e ações novas, com 92 ações estratégicas divididas em seis eixos.


"Compreende-se que o abastecimento alimentar conecta a produção e disponibilidade de alimentos com o acesso e permite influenciar diretamente na dieta da população e nos sistemas alimentares, sendo fundamental a promoção de hábitos alimentares saudáveis, práticas sustentáveis e a sustentação da produção local e regional", registra o plano.


O diagnóstico aponta para a necessidade de mudar a dinâmica da produção de alimentos, que, desde 1988, gira em torno de cinco cultivos (soja, milho, cana-de-açúcar, arroz e feijão). Juntos, eles ocupam ao menos 70% do total de áreas cultivadas do Brasil.


As plantações de milho se espalham por 22,3 milhões de hectares do país, enquanto a soja representa 44,4 milhões de hectares cultivados. No entanto, arroz e feijão têm uma fração pequena dessas terras, ocupando 1,4 e 2,4 milhões de hectares, respectivamente, de acordo com dados de 2023 do IBGE.


No eixo “Distribuição e Comercialização de Alimentos Saudáveis”, composto de programas e ações novos, chama a atenção a proposta de criação da Rede Varejo Saudável, que pretende requalificar estabelecimentos como mercearias, quitandas, açougues e peixarias para ofertarem alimentos saudáveis em áreas de desertos e pântanos alimentares. Esses varejistas serão credenciados pela Conab e abastecidos por agricultores familiares do entorno ou pelas Centrais de Abastecimento (Ceasas).


Desertos alimentares são locais em que o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou inexistente. Já nos pântanos, predomina a venda de ultraprocessados, como no caso de lanchonetes e lojas de conveniência. Ambos os cenários obrigam os moradores a se locomover para outras regiões em busca de alimentos saudáveis.


Também está prevista a instituição de centros de abastecimento e comercialização da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais e economia solidária. As primeiras centrais populares de abastecimento devem ser inauguradas ainda este ano.


De acordo com o plano, outra inovação são as Cantinas Comunitárias, que viriam para substituir as bodegas, hoje operadas por intermediários em áreas remotas. As cantinas serão administradas por associações e cooperativas para assegurar a venda de mantimentos a preços justos.


Além disso, um observatório de preços deve ser criado para monitorar mensalmente o comportamento e as projeções do custo dos alimentos da cesta básica em todo o país.


Entre as ações do eixo “Acesso à Alimentação Saudável”, o destaque fica com o Programa Abastece e Alimenta Territórios, que visa reduzir as distâncias entre produtores de alimentos e consumidores.


Agricultura familiar aliada ao abastecimento


Uma das principais estratégias do lançamento em conjunto do Plano Alimento no Prato e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) é integrar ações de produção e distribuição de alimentos da agricultura familiar. As políticas de crédito rural aparecem nesta terceira edição do Planapo atreladas ao financiamento pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).


A importância de trazer essa demanda para o plano fica evidente ao olhar para dados recentes do governo federal sobre crédito rural. Entre janeiro e agosto, o Plano Safra concedeu R$ 36,4 bilhões em crédito para agricultores familiares por meio do Pronaf. No mesmo período, R$ 184 bilhões foram concedidos ao agronegócio.


Disposto em sete eixos, o Planapo fala ainda em ampliar o acesso de mulheres produtoras a mercados justos e em ações de sensibilização de gestores públicos para aderirem ao PAA. Também está previsto o monitoramento da inclusão de alimentos orgânicos, agroecológicos e da sociobiodiversidade nas aquisições do PAA e do Pnae.


Um dos pontos que vinham travando o lançamento do novo Planapo foi a resistência do Ministério da Agricultura e Pecuária ao Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), cuja implementação estava prevista no primeiro eixo do plano. O presidente Lula teria se comprometido a considerar as propostas da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) durante a revisão do Pronara, que tem nova expectativa de lançamento em 3 de dezembro.


A redução do uso de agrotóxicos é parte central do Planapo, permeando diversas diretrizes. Uma delas é a determinação da agroecologia como estratégia de promoção da saúde, com ações educativas e de fomento no escopo do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Isso inclui monitorar os efeitos nocivos de agrotóxicos na saúde humana e dos ecossistemas.


Outra estratégia de conexão entre os dois planos lançados hoje tem a ver com a recomposição do PAA no início do governo Lula, que havia sido desfinanciado no governo Bolsonaro, com ações de incentivo à compra de alimentos da produção familiar. "Uma das ideias que estamos debatendo é a de estabelecer um sistema compartilhado de monitoramento do Planapo e do Plano Nacional de Abastecimento Alimentar", comenta Paulo Petersen, representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) na CNAPO.


"Se queremos superar a tragédia da fome e da insegurança alimentar e nutricional de forma mais abrangente e profunda, precisamos colocar novas perguntas: que alimentos são produzidos, quem produz, como, onde, como será distribuído e quem consumirá?", completa Petersen.


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