Livro estimula brincadeiras infantis da África e do Brasil
- Márcio Leal
- 12 de fev.
- 2 min de leitura

Reunidas em círculo, as crianças tiram a sorte - no cara ou coroa, por exemplo - para definir o papel de cada um na brincadeira. Quem perde fica parado no meio da roda e, de olhos fechados, grita: “banana”. As demais respondem “verde”, enquanto correm a procura de um esconderijo. A gritaria segue até que todas estejam escondidas. Nesse ponto, quem gritava “banana” sai à procura das demais.
Essa é a banana verde, uma espécie de versão angolana do pique-esconde brasileiro. A brincadeira é uma das 76 reunidas no Catálogo de Jogos e Brincadeiras Africanas e Afro-brasileiras. Ricamente ilustrada, a obra descreve as diversões, analógicas, que entretêm crianças no Brasil e em seis países africanos de língua portuguesa.
Estão lá o pondongo, o Frik Frak, o jogo de oril: brincadeiras que, provavelmente, são desconhecidos no Brasil. Mas dão as caras, também, a amarelinha, boca de forno e cabra-cega, que muitas pessoas adultas talvez se lembrem e que correm o risco de cair em desuso num mundo saturado por telas.
Surpreende que, mesmo com um oceano de distância, muitas das diversões se pareçam: são jogos simples, que envolvem pedrinhas, latinhas ou outros materiais improvisados e que estimulam o divertimento em grupo.
Organizado por Helen Santos, Luciana Soares e Míghian Danae, a obra envolveu uma pesquisa prévia com estudantes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe, todos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Ao longo de 2020 e 2021, o grupo entrevistou pais, avós e conhecidos, de modo a identificar os jogos mais populares nas suas regiões.
As organizadoras explicam que a intenção é que o material seja utilizada em escolas, em especial de educação infantil. Além de entreter, as brincadeiras permitem que a garotada entre em contato com a cultura de países africanos – algo previsto pela Lei nº 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir, nos currículos escolares, o estudo da história da África.
"Queremos demonstrar que há mais possibilidades de integração entre nós para além das que habitualmente conhecemos, as quais podem ser alcançadas quando nos encontramos e passamos a saber mais sobre nós mesmos, aprendendo o que somos a partir do que fomos e projetando juntos o que desejamos ser", escrevem as organizadoras na introdução do volume.
Mas o livro não precisa ficar limitado ao ambiente escolar. Mesmo em casa, abre uma janela para brincadeiras que ensinam e divertem. E que podem ser aproveitadas também pelos adultos. Como diz Débora Alfaia, a escritora e doutora em educação que assina o texto de abertura, o livro "não se limita ao uso com as crianças, mas a todas e todos que se permitirem vivenciar a experiência lúdica, irmanados na vontade humana de ser feliz".
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